Como um rasgo no mapa transformou o Rio de Janeiro para sempre. Uma jornada visual pela história da Avenida Central.
Se você caminhar hoje pelo centro do Rio de Janeiro, é fácil tomar a largueza da Avenida Rio Branco como algo natural. Mas onde hoje vemos um corredor de carros e edifícios imponentes, existia um emaranhado de ruas estreitas, becos e casarões coloniais. Para entender o Rio de hoje, precisamos voltar ao início do século XX.
O Rio que Precisava Respirar
Imagine o Rio de Janeiro de 1900. A capital da República era uma cidade que sufocava. Densamente povoada, com ruas apertadas que datavam do período colonial, era um foco de doenças. O saneamento era precário, e a imagem da cidade no exterior era péssima.
Essa era a cidade que o engenheiro Pereira Passos encontrou quando assumiu a prefeitura em 1902. Ele tinha uma missão clara, quase uma obsessão: modernizar o Rio de Janeiro. E sua inspiração era a Paris do Barão Haussmann. Para modernizar, era preciso primeiro... destruir.
O "Bota-Abaixo"
Não havia espaço para uma avenida larga e arejada. A solução foi drástica e ficou conhecida como o "bota-abaixo" ou "rasga-rasga". Em um período curtíssimo, mais de 640 imóveis foram demolidos. Ruas inteiras, igrejas seculares, a memória viva de séculos foi ao chão para abrir um corredor de 33 metros de largura e 1.800 metros de comprimento, ligando o porto (Praça Mauá) à glória (Praça Floriano, ou Cinelândia).
Foi um trauma urbano, mas também um parto. Em apenas seis meses, a avenida estava aberta. Em 1905, foi inaugurada com o nome de Avenida Central.
Nasce a "Paris Carioca"
A Avenida Central não era apenas uma via; era uma declaração. Era o Brasil dizendo ao mundo que era moderno, civilizado e cosmopolita.
Um decreto exigia que todos os novos prédios tivessem fachadas grandiosas, com estilos que iam do eclético ao art nouveau. Em tempo recorde, a avenida foi preenchida com as sedes de jornais, clubes, hotéis de luxo e companhias.
O ápice dessa transformação foi a construção dos prédios que ainda hoje dominam a Cinelândia:
O Theatro Municipal (1909)
O Museu Nacional de Belas Artes (1908)
A Biblioteca Nacional (1910)
A Avenida que Nunca Parou de Mudar
Mas a história não parou aí. A Avenida Central (que se tornaria Avenida Rio Branco em 1912) foi um palco de constantes transformações. A "Paris Carioca" não era eterna.
Avenida Rio Branco: Iluminação pública (Reprodução: Acervo Rio Memórias)
Muitos daqueles primeiros edifícios da Belle Époque, construídos com tanto orgulho, também seriam substituídos. O ciclo de destruição e reconstrução, que deu origem à avenida, continuou.
Um exemplo fascinante dessa segunda onda de modernização aconteceu nos anos 50 e 60. O luxuoso Hotel Avenida, um dos símbolos da avenida recém-inaugurada, foi demolido em 1957 para dar lugar a um novo tipo de arquitetura: o arranha-céu de vidro e aço, inspirado em Nova York.
A Avenida de Muitas Vidas
Hoje, a Avenida Rio Branco é uma mistura de todos esses tempos. Prédios centenários da Belle Époque resistem ao lado de "caixotes" modernistas dos anos 60 e de arranha-céus espelhados.
Olhar para a história da Avenida Central é entender o Rio de Janeiro: uma cidade em perpétua construção, disposta a derrubar seu passado para construir seu futuro. E cabe a nós, com câmeras e histórias, garantir que essa memória não se perca.
Avenida Rio Branco, antiga avenida central em 2010. (Reprodução: Rio de Janeiro Aqui)





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